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Como lidar com o fim de um relacionamento? E como dizer adeus?

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Como lidar com a dor quando você termina o relacionamento?

Meninas, toda despedida é um futuro que se faz presente.

Tudo acaba.

Enfim. A pergunta de hoje:

“João, eu já passei pelos dois lados da moeda: tanto a que toma um fora do namorado, como, agora, a quem dá. E não sei exatamente dizer qual dos dois lados é pior. Sei que faz meses que, sem grandes motivos, por uma soma de fatores meio aleatórios e por um acaso dos infernos, terminei um relacionamento que não tinha nada de ruim, só não andava muito bem. E agora, mesmo com a vida em frente, com outras coisas acontecendo, a saudade não passa e aquela sombra de ter tomado a decisão mais errada de todas sobrevoa tudo. Fico aqui numa esperança meu tímida de quem um dia o mundo de acerta e, talvez, ele rode a ponto de nos fazer reencontrar do jeito certo e definitivo. Mas até lá é uma confusão sem fim… Enfim, como é que a gente lida com o fim?”

Aprender a dizer adeus
Moças, eu não sei se tem fórmula. Aliás, eu sei sim. Não tem fórmula.

Terminar ou ser terminado, ao cabo, são apenas dores diferentes igualmente intensas. Há quem diga que tomar o fora seja a dor grave do choro alto, do berro. A dor band aid. Dor que dói pra diabo, que arranca sangue e pele, deixa uma marca. Mas depois passa, faz da gente alguém, com sorte, melhor, mais cascudo.

Há quem diga que a dor de quem dá o fora “sem grandes motivos, por uma soma de fatores meio aleatórios”, essa seja mais plácida e, por isso, até pior. Porque é dor que fica e que pesa ali no ombro. É um encosto. É bancar a pior das coisas humanas – que é justamente ser humano; e ser humano é ter que tomar e bancar as decisões e as escolhas e a falta de certeza eterna entre uma coisa e outra.

Eu não sei exatamente como é que faz pra resolver isso. Quem é que sabe? Eu sei só que há que viver a dor, há que lidar com a dor, há que rever a cada dia, no espelho e fora dele, nas lembranças e nas novas relações, a dor que vive em nós. É preciso, não digo regá-la, mas podá-la, tratá-la, deixar a dor em flor, preciosa, porque dessa dor, que um dia foi alegria, haveremos de fazer brotar a alegria nova, seja ela com um novo amor, seja ela com um velho amor de reencontro, que se faz novinho em folha, novinho em flor.

Eu acredito no amor, moças. A mais poderosa das energias, a energia essencial. Amor.

Erram os pascácios, os tontos, os poetas de meia tigela, os que pedem em concreto “mais amor, por favor”. Erram porque esses nada sabem sobre o que é amar. Amar é dor e não é dor. É um alto e um baixo mais baixo que alto. É apostar corrida com um jamaicano de São Silvestre. É socar as ondas. Amor é uma baita duma treta dos infernos. Por isso mesmo, o paraíso. Nada mais vida do que o amor.

Coisa dura de lidar, sempre em mutação, uma tarefa para a qual nunca estamos prontos, um livro que nunca acaba, uma lição em que nosso máximo esforço resulta em passar o ano na média. E olhe lá. Reprovamos no amor. Insistimos no amor. No entanto, eis o amor aí, olímpico, irresistível, infinito, absolutamente inescapável, precioso, desejável. Não há alternativas ao amor.

O mais hediondo dos humanos ama. O mais angelical dos humanos ama.

Entre um e outro, amamos nós.

Amor é uma sombra e é um sol.

Quem será capaz de escapar da sombra e do sol?

Enfim é um fim
Meninas, a leitora acima, a derradeira, quer saber como dizer adeus? Eu direi a ela: não sei. Nunca soube. Nunca saberei. Mas vejam só a graça: vocês também não sabem. O fim de uma relação, de uma história, de um amor é só um fim. Um fim é um mistério. Um fim é um caminho aberto a todo tipo de recomeço. Com novas pessoas ou com a mesma. No mesmo cenário ou em paragens inéditas. O ponto nunca foi esse: saber. O ponto é justamente não saber, aceitar que razão nada que tem a ver com amor. E que a grande verdade, a verdade última, é abraçar o amor naquilo que ele tem de maior: a contradição.

Amar e dizer adeus, em suma, é aquilo que mais faz parte daquilo que nos faz parte da humanidade. Porque mesmo o mais fracassado dos amores é um privilégio irrepetível, milagroso, inacreditável. Disso eu sei. Todo amor, anotem: ele nasce com os fumos da eternidade. E todo amor, vou dizer mais ainda: ele sucumbe àquilo que disse aquele sujeito lá longe: ele segue enquanto “o resto é silêncio”. Um dia, pra todos nós aqui, só haverá silêncio. Uma última palavra e nada mais.

E isso é bom. Isso é ótimo. Isso é o que é. Isso é.

Meninas, direi uma vez mais e depois nada mais: toda despedida é um futuro que se faz presente. Presente que logo se filiará ao passado. Nós seguiremos o amor até que os outros sigam o amor por nós. Quando o momento de o fim chegar, que ele seja simples, duro, inesquecível, mas que também sinalize, a seu tempo, a felicidade das coisas e da vida que seguem.

Porque, enfim, eis o fim, enfim: todo amor tem a dimensão da eternidade. No éter, na memória, numa foto, no ar, aquele amor ali, o seu e o meu, o dele e o dela, cada um dos que tivemos e vamos ter, ele terá mudado por ínfimo que seja o giro do mundo. Um encontro feito, um beijo dado, um filho tido, uma viagem, um arrependimento, um “sim” e um “não”, tudo isso gera as pequenas mudanças no destino que se acumulam e fermentam e crescem e fazem o grande do destino do mundo, toda a história escrita ou esquecida, todo palácio, estátua e meio fio, toda literatura, toda criança nascida ou não nascida, toda ponte e, olha, vou até dizer aqui, sem freio, que todo rio…

Cada amor sobrevive nem que seja no incansável giro de 24 horas de um mundo povoado de gente que vai e que vem. Ouroboros. Porque gente, meninas, no fim das contas, em que pese todas as multidões de exceções, gente é o resultado máximo do amor.

Enfim, mais uma vez, sobreviveremos.

Até lá, este é o nosso tempo, este é o nosso silêncio. Foi bom. Foi curto. Foi longo. Foi.

Fui.

 


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